O futebol é uma modalidade que acolhe a todos. O que cerca a modalidade, como, por exemplo, o jornalismo, tem também o dever de abraçar todos os sonhos e promover boas possibilidades de forma igualitária. Anderson Matheus é paraibano, da cidade de Santa Rita, tem 21 anos e é cego. O jovem tem o sonho de se tornar um grande comentarista esportivo. E como todo desejo é feito de caminhada, ele tem feito por onde, do seu jeito, e com muito conhecimento de futebol no Brasil e também no exterior.
Foto: Arquivo pessoal / Anderson Matheus
Anderson já nasceu sem a visão do olho esquerdo. O olho direito foi desenvolvido com pouca visão e diagnósticos de miopia e catarata. Até os 10 anos, o jovem fez um tratamento específico. Só que, aos 11 anos, jogando bola com seus amigos na rua, ele sofreu uma cotovelada no olho direito, com o impacto de um descolamento de retina, de queda de cristalino. Toda qualidade que ele tinha no olho foi perdida. De lá até aqui, o santarritense já precisou passar por nove cirurgias e tem apenas 10% de visão.
Apesar da sequência de cirurgias, Anderson sempre manteve o foco naquilo que tanto amava, o futebol. Ele conta que gosta de estudar sobre todas as esferas que cercam esse esporte e de debater sobre tudo que acontece na modalidade mais popular do planeta.
O futebol me move há muito tempo. É algo que me faz sorrir. É o meu sonho. É onde me sinto à vontade para falar com todo mundo. Eu acompanho futebol brasileiro, europeu…
E nada melhor do que fazer acontecer um sonho. Foi pensando nisso que o jovem colocou para frente um desejo que sempre carregou consigo e que uniu o útil ao indispensável. É que ele é idealizador do Canal Deu Olé. Por lá, ele comenta futebol, narra partidas ao vivo e movimenta conteúdos sobre tudo que acontece no mundo da bola. Com a ajuda de familiares, amigos e de sua namorada, o sonho de ser um grande comunicador vai sendo moldado aos poucos.
Em seu espaço, Anderson já conversou com grandes nomes do jornalismo esportivo do país e vai exercitando suas opiniões, provocando bons debates, dando voz e vez ao maior propósito carregado em seu coração e encontrando também uma rede de solidariedade diante dos custos com seus tratamentos.
— Em maio do ano passado, com a pandemia, com tudo, eu comecei a construção do Deu Olé, que, hoje, faz parte da minha vida. Eu tenho que produzir vídeos, notícias, quadros novos. Foi, para mim, muito gratificante. Já consegui fazer lives com jornalistas famosos. O pessoal abraçou a causa. Tive que fazer uma cirurgia para fazer no meio disso tudo e consegui dinheiro, através de uma vaquinha do Deu Olé, com muita ajuda, para fazer o procedimento no meu olho — explicou.
Na última quarta-feira, Anderson Matheus foi convidado pela primeira vez para comentar 90 minutos de um jogo de futebol. O confronto foi entre Flamengo e Fortaleza, pela rodada #6 do Brasileirão, que contou com vitória rubro-negra por 2 a 1, no Maracanã. Ele esteve ao lado de outros jovens cronistas esportivos pela Rádio Mania Recife, de Pernambuco, e definiu o momento como um sonho realizado.
O garoto acompanha as partidas quase sempre pela televisão. Ele só recorre ao rádio em casos mais extremos, quando não consegue mesmo acompanhar a partida em audiovisual. E tenta do jeito que pode, de todas as suas formas e sempre regado de muita paixão pelo futebol e pela comunicação com pessoas.
O jovem garoto é sinônimo de coragem e de luta por inclusão social. E o futebol, o jornalismo e a vida são espaços para reunir os fragmentos de cada um. E de, sobretudo, aprender com os bons exemplos. Como Anderson Matheus nos ensina diariamente.
Vitor Oliveira, GE Paraíba