O forró agora é patrimônio imaterial brasileiro, declarado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) nesta quinta-feira (9). Mas, segundo Elba Ramalho, “não é só a identidade cultural, vai muito mais além”. A cantora paraibana afirma que o título é importante porque “o gosto popular precisa ser respeitado” e as novas gerações precisam conhecer como tudo começou.
A decisão que declarou o forró como patrimônio também considerou a expressão musical como supergênero. O pedido de reconhecimento foi aberto em 2011, pela Associação Cultural Balaio do Nordeste, de João Pessoa.
Elba acompanhou tudo de perto, quando o movimento pelo título começou na capital paraibana. O título foi concedido quatro dias antes do Dia do Forró, celebrado em 13 de dezembro. Segundo a cantora, é importante legitimar de fato e de direito essa identidade cultural.
“Quando o forró começou a perder espaço nas festas de São João eu me engajei ao movimento, são as nossas raízes. Quanto mais regional, mais universal. Tenho mais de 40 anos de carreira, posso afirmar que não existe um show em que eu não cante forró, que cante Gonzagão e Dominguinhos. É o meu DNA”, disse Elba.
Elba, inclusive, vai lançar um disco em parceria com o cantor Fagner onde os dois interpretam apenas sucessos de Luiz Gonzaga.
Sertaneja, Elba nasceu em Conceição em 1951 e se mudou com a família para Campina Grande, em 1962. Há 20 anos é atração tradicional da noite de 23 de junho, no São João da cidade.
Com sua voz única, presença, carisma e regionalidade, ela se consolidou como sinônimo de Nordeste e conseguiu não só popularizar o forró, mas também abrir portas para mulheres artistas paraibanas no cenário nacional.
A conquista para o gênero também vai muito mais além da identidade. A cantora diz também que músicos e trios de forró precisam ser preservados e mais valorizados em eventos.
Por isso, o título também é uma celebração e reconhecimento da história e raiz do forró.
“O gosto popular precisa ser respeitado, existem novas vertentes que tem o forró “pé de serra” na origem de tudo. As novas gerações precisam conhecer como tudo começou, precisam conhecer Luiz Gonzaga, Marinês, Jackson do Pandeiro, Antônio Barros, Dominguinhos e tantos mestres que abriram as portas para o forró, baião, xaxado, quadrilhas e etc”, afirma a cantora.
Concessão do título
O título foi concedido quatro dias antes do Dia do Forró, celebrado anualmente no dia 13 de dezembro, dia do nascimento de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.
Junto ao pedido de reconhecimento, feito no ano de 2011, foi anexada uma coletânea de livros, LPs e DVDs do gênero musical e um documento com mais de 400 assinaturas de representantes das comunidades forrozeiras de todo o país, que também pediram ações de sustentabilidade e conservação do ritmo.
Em 2019, o Iphan iniciou uma pesquisa nos nove estados do Nordeste, além do Distrito Federal, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo para entender e identificar como se expressa o supergênero musical.
Segundo a presidente da Associação Cultural Balaio do Nordeste, de João Pessoa, Joana Alves, a declaração do forró como patrimônio imaterial brasileiro representa o “batismo” das matrizes do gênero musical.
Com a declaração “a gente tem a possibilidade de trabalhar ações e políticas públicas. A gente quer trabalhar com dignidade. Agora na pandemia, por exemplo, ninguém conseguiu trabalhar. Isso a gente precisa consagrar”, reforçou Joana.
De 13 a 17 de dezembro haverá uma entrega simbólica do título no IV Encontro Nacional de Forrozeiros que acontece simultaneamente com o III Fórum Nacional de Forró de Raiz, sediado no Espaço Cultural José Lins do Rego e na Usina Cultural Energisa, em João Pessoa.
Durante a programação, músicos vão homenagear o cantor Genival Lacerda, que morreu em janeiro de 2021, vítima da Covid-19.
Por Jhonathan Oliveira e Lara Brito, g1 PB