A declaração do forró como patrimônio imaterial brasileiro, feita nesta quinta-feira (9), representa o “batismo” das matrizes do gênero musical, segundo Joana Alves, presidente da Associação Cultural Balaio do Nordeste, de João Pessoa, responsável pelo pedido de reconhecimento.
O título foi concedido quatro dias antes do Dia do Forró, celebrado em 13 de dezembro, e 10 anos depois da solicitação, feita pela entidade em 2011.
“É como se a gente tivesse um filho pagão. Ele hoje tá batizado e reconhecido”, comparou Joana.
A definição aconteceu durante uma reunião extraordinária do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que também considerou o gênero musical como supergênero, por ter a capacidade de conseguir agrupar ritmos e expressões musicais como o baião, o xote, o xaxado, o chamego, o miudinho, a quadrilha e o arrasta-pé.
Conforme a associação, o forró é um dos ritmos “que mais representa o povo nordestino e que transmite os saberes e fazeres de um povo, na forma de tocar, dançar e se relacionar, tornando-se um símbolo expressivo do imaginário nordestino”.
Com a declaração “a gente tem a possibilidade de trabalhar ações e políticas públicas. A gente quer trabalhar com dignidade. Agora na pandemia, por exemplo, ninguém conseguiu trabalhar. Isso a gente precisa consagrar”, reforçou Joana.
Pedido, avaliação e concessão do título
Junto ao pedido de reconhecimento, feito no ano de 2011, foi anexada uma coletânea de livros, LPs e DVDs do gênero musical e um documento com mais de 400 assinaturas de representantes das comunidades forrozeiras de todo o país, que também pediram ações de sustentabilidade e conservação do ritmo.
Já em 2015, a Associação junto com os participantes do Encontro Nacional para Salvaguarda das Matrizes do Forró, que ocorreu na cidade de João Pessoa, também foi responsável pela elaboração e envio ao Iphan de uma Carta de Diretrizes para Instrução Técnica do Registro das Matrizes do Forró como Patrimônio Cultural do Brasil. O documento foi produzido com a finalidade de orientar todo o processo de pesquisa que envolveu a produção do dossiê de patrimonialização.
Desde então, foram realizados vários fóruns e audiências públicas por vários estados brasileiros: Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, São Paulo, Sergipe e no Distrito Federal.
Esses encontros possibilitaram o diálogo entre forrozeiros de todo o país e com as instâncias governamentais na busca pelo título.
Em 2019, o Iphan iniciou uma pesquisa em todos os nove estados do Nordeste, no Distrito Federal e também no Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo para compreender as expressões do forró. Ainda houve estudo em Minas Gerais e Espírito Santo, com a identificação de festivais sobre o gênero musical.
Haverá uma entrega simbólica do título será entregue durante o IV Encontro Nacional de Forrozeiros que acontece, de 12 a 18 de dezembro junto com o III Fórum Nacional do Forró de Raiz, sediado no Espaço Cultural José Lins do Rego e na Usina Cultural Energisa.
Pesquisa do Iphan sobre o forró
Segundo a relatora do processo no conselho do Iphan, Maria Cecília Londres Fonseca, “a pesquisa aponta que a primeira menção à palavra forró foi localizada em um jornal amazonense de 1914”, que se referia a seringueiros cearenses possivelmente em suas atividades festivas.
Ainda de acordo com Marília Cecília, o estudo também identificou que o mais provável é que a palavra forró tenha se originado do termo forrobodó.
Luiz Gonzaga é considerado o principal divulgador e representante do forró, que no início era tocado apenas com sanfona, zabumba e triângulo, no Brasil inteiro. Em seguida, outros instrumentos foram acrescentados à musicalidade, como o pandeiro, a guitarra e a bateria.