Os motoristas por aplicativo são, durante a pandemia de Covid-19, uma das categorias mais expostas à doença. Mas o contato com muitas pessoas durante o expediente gera outros riscos, como o de assaltos e outros tipos de violência. Por isso, um profissional paraibano criou e instalou uma barreira feita de madeira e acrílico para se proteger enquanto trabalha.
José Cirom tem 38 anos e mora no município de Queimadas, no Agreste da Paraíba. Ele está vinculado a duas plataformas de transporte particular de passageiros desde 2018. É em Campina Grande, município vizinho ao de sua residência, que ele trabalha.
A ideia do equipamento de proteção individual surgiu em 2020, ainda no começo da pandemia de Covid-19. Como o projeto aparentava dar um pouco mais de trabalho, o motorista preferiu montar uma divisória feita com um plástico resistente, que foi colada no veículo dele com velcros. A primeira barreira foi feita pela mãe de José, que é costureira.
Ele mudou de ideia no fim de 2021, quando casos de violência contra colegas de profissão ganharam destaque na cidade e fizeram com que a necessidade de proteger ficasse ainda mais maior.
No dia 27 de dezembro do ano passado, por exemplo, um profissional foi assaltado, enforcado com o fio do carregador do próprio celular e teve o carro incendiado. Depois de inalar fumaça, ele morreu. Já no dia 31 do mesmo mês, outro jovem foi morto a facadas pela passageira durante uma viagem.
Embora seja cauteloso com os passageiros, o medo de José aumentou e ele achou que era o momento certo para investir em um novo mecanismo de defesa.
“Eu vi que ali era o perfil de pessoas que eu teria levado [no caso do jovem que teve o carro incendiado]. Percebi que tinha que tomar mais cuidado. Poderia ter sido comigo também”, desabafou.
Com pressa para trabalhar com tranquilidade, ainda na primeira semana de 2022, o novo equipamento estava criado e implantado. O projeto foi todo produzido por José. A parte de madeira foi ajustada, conforme as medidas do carro, por um amigo marceneiro dele.
Depois que a madeira foi moldada, o motorista comprou o acrílico, fez todas as adaptações necessárias e fixou a proteção. O custo total foi de, em média, R$ 350.
Preocupado com o desempenho no trabalho, ele também pensou nos passageiros.
“Queria ver a aceitação do público. Não é todo mundo que pensa do jeito que a gente quer. Todas as pessoas elogiaram, até agora ninguém criticou”, contou.
Inspiração surgiu do cinema
Hoje, José tira o sustento da família como o trabalho que realiza como motorista por aplicativo, de 10 a 12 horas por dia. Antes disso, ele atuou na área de engenharia de produtos em uma fábrica de calçados. Daí vem a criatividade dele.
A ideia da divisão foi inspirada nos táxis, que via em filmes um pouco antigos e também em modelos semelhantes vistos em aviões. O acrílico foi o toque de funcionalidade e também modernidade, encontrado pelo paraibano. Com o material transparente, ele pode manter contato visual com os clientes e enxergar, ainda, a parte traseira do carro. Já o tom da madeira foi escolhido para combinar com a cor dos bancos.
A invenção também conquistou os parceiros de profissão. De acordo com José, um grupo de outros profissionais que trabalham em Campina Grande já se articula para instalar o mesmo produto. E pela reprodução da própria criação, ele disse que não quer nada em troca.
“Eu só fiz plantar a sementinha. Na verdade, só quero me proteger. Ter o direito de sair de casa, olhar meus filhos, poder voltar e vê-los de novo. Essa é minha preocupação”, concluiu.
Por Iara Alves, g1 PB