Início » Influenciadora com escoliose grave busca conscientizar população sobre o capacitismo

Influenciadora com escoliose grave busca conscientizar população sobre o capacitismo

por AcessaParaíba.com
Compartilhar

Maria Francisca Andrade, de 30 anos, tem escoliose congênita desde os cinco meses de idade. A limitação que o desvio tridimensional na coluna trouxe para a influenciadora, bióloga e funcionária pública de Uiraúna, Sertão da Paraíba, foi o preconceito, uma vez que ela nunca deixou de ser feliz ou de fazer o que gosta, nem mesmo quando enfrentou um câncer de ovário em 2014.

Foto: Maria Francisca Andrade/Arquivo Pessoal

No Mês da Conscientização sobre a Escoliose, o ‘Junho Verde’, a principal luta de Maria é contra o capacitismo. Em seu perfil no Instagram, que conta com mais de 135 mil seguidores, Maria compartilha vídeos de coreografias, humorísticos, além de conteúdos sobre aceitação.

A história de Maria é repleta de determinação. Em 2014, logo após ter concluído a graduação em biologia, na Universidade Federal de Campina Grande, ela descobriu um câncer. Durante um ano, atravessou o estado da Paraíba para fazer o tratamento no Hospital Napoleão Laureano, em João Pessoa.

“Foi uma das lutas mais difíceis da minha vida. Fiz cirurgia e quimioterapia, e passei mais de um ano fazendo tratamento para a cura do câncer. Devido ao câncer adquiri outros problemas de saúde, mas graças a Deus estou convivendo e tratando”, relatou.

Após a cura, Maria passou em um concurso público para os Correios, onde trabalha até hoje.

Influenciadora digital

A ideia de se tornar influencer veio dos amigos. Maria, que sempre gostou de ser espontânea e divertida, foi encorajada a gravar vídeos para as redes sociais e começou a atuar ativamente na internet por volta de 2016.

Maria começou a ganhar mais visibilidade em 2018, quando o cantor Léo Santana compartilhou um vídeo de Maria dançando uma das músicas dele, ‘Empina e treme’. Hoje, ela busca conscientizar as pessoas que uma pessoa com escoliose tem o direito de ter uma vida plena, fazendo aquilo que gosta e acredita.

“Por meio da minha rotina, realidade e conteúdos, mostro que qualquer pessoa com deficiência tem o direito de viver uma vida como bem quiser, fazendo challenges, danças, e tudo aquilo que o capacitismo é incapaz de enxergar”.

Apesar de ter mais de 100 mil seguidores, Maria ainda enfrenta dificuldades na rotina de influenciadora digital e confessa que recebe poucas propostas de parceria.

“Eu só fiz tipo provador uma única vez, só quem faz divulgação de roupa nas lojas são as blogueiras que não tem nenhuma deficiência, pelo menos na minha cidade é assim. O máximo que eu recebo são peças de roupa como presentes para divulgar a loja. Meu perfil no Instagram já conta com mais de 100 mil seguidores, o maior da minha cidade, mas tenho pouca publicidade, se é ou não por causa da minha deficiência, eu realmente espero que não”, desabafa.

Maria acredita que é fundamental que as marcas contratem pessoas com deficiência para as suas campanhas, pois, além da representatividade, aproximam-se de diferentes públicos e agregam valor aos produtos. Ela ressalta também que é necessário enxergar o potencial desses influenciadores, além da deficiência.

“Quando as empresas mostram pessoas com deficiência, elas conseguem se aproximar dos grupos que eram esquecidos e que muitas vezes tem dificuldade para se aceitar. Ao fazer isso, não se prega apenas a representatividade das pessoas com deficiência, as empresas estão buscando melhorar as suas marcas e agregar valor a elas. E vale salientar que se deve ser trabalhado em cima do potencial e não ver apenas a deficiência da pessoa”.

Diferenças entre escoliose idiopática e congênita

Maria tem escoliose congênita que é causada por malformações que se desenvolvem ainda na gestação. Segundo o neurocirurgião e especialista em coluna Thiago Martins, o tratamento para esse tipo de escoliose é complexo, sendo necessária a realização de cirurgia e se tornando irreversível em alguns casos.

“O tratamento é mais complexo do que nos casos idiopáticos do adolescente, pois nesses casos são crianças mais jovens, curvas mais agressivas e muitas vezes esses pacientes também apresentam outras malformações sistêmicas associadas: medula presa, alterações cardíacas e malformações do sistema urogenital”, explicou.

Já a escoliose idiopática do adolescente (EIA) é o tipo mais comum. O especialista em coluna explica que o desalinhamento acontece durante a fase do crescimento e que não há uma causa definida para que ocorra.

“Nestes casos, as vértebras são anatomicamente bem formadas, durante a infância a criança apresenta o alinhamento adequado da coluna. Porém, na adolescência, especialmente durante a fase de estirão do crescimento, o ‘empilhamento’ se desalinha e há progressão da curva. Não há uma causa definida para a EIA, nem é causada por mochilas ou postura inadequada. A EIA é quatro vezes mais comum em meninas que em meninos”, continua Thiago.

Já a escoliose congênita aparece na infância sendo causada por malformações que se desenvolvem durante a formação da coluna entre quatro e seis semanas de idade gestacional. Falhas de formação ou segmentação das vértebras, que ocorrem isoladamente ou em conjunto.

Luana Silva, G1 PB


Compartilhar

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Se concorda com isso, clique em Aceitar e fechar, mas você pode cancelar se desejar. Aceitar e fechar Saiba mais